Vamos acreditar que é mesmo desta vez. O assunto como todos sabemos tem a ver com Penacova e com a sua afamada lampreia . Basta pesquisar a etiqueta ( tag) " escada de peixe" neste blogue e verificar como tem sido a luta por esta obra e como as promessas têm vindo a suceder-se...
O Diário de Coimbra noticiou:
Escada de peixes
A empreitada da construção da nova escada de peixes no Açude-Ponte deverá começar, segundo avançou, ontem, Carlos Encarnação, «em Fevereiro». No início da reunião do executivo municipal, o presidente da Câmara de Coimbra deu conhecimento de uma missiva, datada de 22 de Dezembro de 2009, do Instituto da Água, segundo a qual está assinado o contrato de construção da nova escada de peixes, assim como está em condições de proceder à consignação da obra.
O Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional vai colocar a concurso público, via Instituto da Água, a empreitada de construção da nova escada de peixe do açude-ponte de Coimbra.
A medida, solicitada pelas mais diversas entidades, inclusive com uma petição e requerimentos à Assembleia da República, irá facilitar, assim que concretizada, o ciclo de vida da lampreia, bem como do sável, apesar deste estar praticamente extinto.
Estácio Flórido, actual mordomo-mor da Confraria da Lampreia, tem sido dos mais empenhados defensores da construção de uma nova escada de peixe no açude-ponte, uma luta que começou a travar na década de 80, era então presidente da Câmara de Penacova.
Por isso, foi com naturalidade que, face à solicitação do Diário de Coimbra para um comentário, indagou pela fonte da notícia e da sua veracidade. Quebrado o cepticismo, deixou escapar uma sentida alegria - «é uma excelente novidade» - para de seguida observar que é de extrema importância económica e ambiental para Penacova, mas também para a região Centro.
Aliás, de tal forma importante que a Confraria da Lampreia estava a ultimar, como último recurso, a interposição de uma acção jurídica contra o Estado, alegando «delapidação do património». Já não será necessário, constata Estácio Flórido, mas houve uma longa luta até aos dias de hoje. O responsável da Confraria, associação que também nasceu, em 2003, como forma de pressão para salvar a lampreia, recorda a petição, realizada em conjunto com a Associação de Amigos do Mondego e seus Efluentes. «Teve quatro mil assinaturas», observa, antes de recordar as deslocações à Assembleia da República até a subida a plenário, onde foi «aprovada por unanimidade».
Nas normas do concurso a lançar pelo Instituto da Água pode ler-se que a obra «é constituída pelo dispositivo de transposição dos peixes, pela bacia de dissipação do caudal adicional, pela câmara de válvulas», entre outros trabalhos complementares. Refere-se ainda «um compartimento para recolha das ensecadeiras, casa de monitorização e contagem de peixes (edifício de exploração), construção da estrutura em gabiões na zona de entrada dos peixes e todas as obras a efectuar a jusante do açude…».
A empreitada, com um preço base de dois milhões e meio de euros, tem um prazo de execução estimado em 18 meses. Os critérios de adjudicação, entre outras informações, podem ser consultados no processo do concurso, patente no Departamento de Obras, Protecção e Segurança, na avenida Almirante Gago Coutinho, em Lisboa.
Turistas a apreciar passagem dos peixes
Vai para seis anos que o Instituto da Água encomendou à empresa Hidroprojecto a elaboração de um plano para construção da escada de peixe no açude-ponte. No estudo, que resultou em projecto final e pronto a ser executado, participaram técnicos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).
Na altura da projecção concluída, em 2002, os custos estavam estimados em um milhão de euros, contra os 2,5 milhões agora previstos. Num trabalho publicado em Maio de 2006, o Diário de Coimbra divulgou em pormenor o projecto, que contempla a construção de diversas bacias desniveladas entre si, pensadas para proteger a lampreia, mas também o sável e a savelha. De sublinhar a criação de uma sala envidraçada, com duas funções distintas: monitorizar as espécies por parte dos biólogos e permitir o aproveitamento turístico, com vistas privilegiadas da passagem dos peixes.
In DIÁRIO DE COIMBRA, via Alerta Google
FOTO: http://www.diariocoimbra.pt/fotos/18991.JPG
( Título nosso)
Do Jornal de Notícias, sobre o problema da lampreia e a escada de peixe na Ponte Açude:
Pecado ambiental
francisco leong / arquivo jn
Francisco Curate, Antropólogo
Omundo e os homens são antigos. Os pecados também. Afinal, os nossos defeitos são ingénitos, naturais quase sempre a moral cede perante a vontade. Foi no séc. IV, e no Egipto, que um certo Evágrio Pôntico, monge grego, identificou e descreveu (para sua perene glória) os oito males espirituais que acometiam a humanidade e provocatoriamente vexavam e atropelavam a ordem doutrinária judaico-cristã. Quando, no séc. VI, o papa Gregório Magno tomou conhecimento da lista de Evágrio, redefiniu-a face ao cânone da Igreja de Roma. Nasciam os sete pecados capitais.
Embora naquela época as inquietações teológicas fossem bem diferentes do que são hoje, os pecados catalogados por S. Gregório sobreviveram à indeclinável rasura do tempo e permaneceram intocados no catecismo até há bem pouco tempo. Aos sete pecados canónicos, vinculados à culpa individual, a Igreja Católica acrescentou (oficiosamente) outros comportamentos pecaminosos as experiências científicas com seres humanos, a pobreza, a manipulação genética, a injustiça social, a riqueza desmedida, a toxicodependência e a poluição do ambiente.
Este último pecado é especialmente interessante. Mais que uma falha privada parece configurar uma transgressão social. Se uma instituição multissecular como a Igreja Católica demorou tanto tempo a associar as ofensas ao ambiente a uma conduta (individual ou societária, não interessa) moralmente inaceitável, não devemos ceder à perplexidade quando lemos que uma simples "escada de peixe" (uma espécie de rampa em cascata que permite aos peixes ultrapassar obstáculos artificiais motivados por construções humanas) no Açude-Ponte do Rio Mondego, em Coimbra, se conforma ao mísero estado de projecto, de esboço de papel, com 30 anos.
Um rio é um sistema biológico complexo e frágil. Um transtorno ecológico a montante tem consequências a jusante, e vice-versa. A inexistência de uma estrutura que facilite a transposição do Açude impede um grupo de espécies piscícolas, como a enguia, a lampreia, o sável ou a savelha, de subir o rio e aí prosseguirem o normal paradigma biológicos de crescimento e reprodução.
A construção do Açude-Ponte do Rio Mondego na década de 1980 impôs uma pressão pungente sobre o ciclo reprodutivo de algumas espécies de peixes. Ao prejuízo ecológico soma-se o risco de perdas económicas a gastronomia associada à lampreia, por exemplo, sustenta uma valia maior em concelhos como os de Penacova ou Montemor-o-Velho.
O deputado Miguel Almeida, do grupo parlamentar do PSD, vai apresentar um requerimento à Assembleia da República, reclamando explicações sobre o adiamento reiterado de um projecto essencial à manutenção da biodiversidade do Rio Mondego a montante da cidade de Coimbra. Em 2006, os Amigos do Mondego e Afluentes haviam feito o mesmo, sem resultados práticos. São 30 anos de esquecimento e desleixo. A incúria não é pecado, mas deveria ser.
Na crónica da passada semana ("Nem metro, nem meio metro" JN 20/03/2008) referi, por lapso, que os vereadores do PS e PCP da Câmara Municipal de Coimbra votaram contra a moção da Metro Mondego. Na realidade votaram a favor. O projecto foi reprovado com os votos de quatro elementos da coligação PSD/CDS-PP/PPM. Aos visados as minhas desculpas.
FOTO:
Foto: INAG
ESCADA DE PEIXE: Miguel Almeida apresenta requerimento ao ministério
A câmara acolheu ontem uma reunião com o deputado social-democrata Miguel Almeida para, mais uma vez, se tentar desbloquear o processo de construção da escada de peixe.
Dezenas de vezes anunciada como obra essencial para a região, a famosa escada de peixe tem sido um dos cavalos de batalha do actual presidente da câmara de Penacova. Maurício Marques, à saída da reunião, frisou mesmo que já a reclama há “onze anos”. É que, como fez questão de lembrar, a actual escada não serve os interesses destes ciclóstomos, já que nalguns casos são os guardas florestais que transportam as lampreias para montante do rio Mondego.
Miguel Almeida referiu que, numa primeira fase, irá entregar um requerimento na Assembleia da República a questionar o ministro do Ambiente sobre a data de início da construção da escada de peixe. “Todos os partidos consideraram esta uma obra prioritária. É altura dela avançar”, disse.
Aproveitando o tema, o social-democrata irá ainda apresentar outro requerimento com o objectivo de criar um grupo de trabalho para o assoreamento do rio. Uma questão “penalizadora para Coimbra e que pode vir a causar problemas de desenvolvimento turístico da cidade”. É que interessa saber “quem é que apresenta projecto e avança com a obra”, já que a construção da escada de peixe será paga na íntegra pela “dragagem da areia do rio”. Desta forma, irá ser também enviada uma carta sobre este tema para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.
Refira-se que a construção da ponte-açude, nos anos 80, transformou-se num obstáculo para a subida de várias espécies piscícolas nas águas do rio Mondego. Entre elas, destacam-se a lampreia, a enguia, o sável e a savelha que utilizam o Mondego e os seus afluentes como local de reprodução ou de crescimento. A escada de peixe consistirá numa rampa em cascata, com tanques de água, que permita aos peixes ultrapassar o açude e subir o rio para desovar e crescer.
In Diário AS BEIRAS, 18 Março
( texto destacado a bold da nossa responsabilidade)