O Parque Patrimonial do Mondego ainda é uma ideia . Mas os seus promotores garantem que 2008 será o ano da concretização. A apresentação pública do Projecto Parque Patrimonial do Mondego teve lugar dia 6 na Escola Superior Agrária de Coimbra.
A reconstrução da narrativa histórico-cultural das antigas rotas comerciais fluviais, da Figueira da Foz para o interior, é a linha orientadora do projecto de criação do Parque Patrimonial do Mondego, que no próximo ano ganhará visibilidade.
Actualmente é uma ideia que está a ser trabalhada, já com algumas iniciativas de análise e de inventariação realizadas, mas no próximo ano os estudos no terreno para a preparação de um projecto integrado poderão ter como consequência a divulgação de alguns roteiros, revelou à agência Lusa o seu principal dinamizador, o arquitecto Nuno Martins.
A intenção é criar um Parque Patrimonial do Mondego entre o Porto da Raiva, no concelho de Penacova, e a foz do Mondego, na Figueira da Foz, atravessando ainda os concelhos de Coimbra e Montemor-o-Velho, numa extensão de
“Quisemos desenvolver uma narrativa, a partir da análise histórica do Rio Mondego”, que durante séculos foi atravessado, no sentido de nascente e para a foz, com barcas serranas, explicou Nuno Martins.
A partir desse troço do rio Mondego se estabeleciam as ligações comerciais desde a Figueira da Foz até ao Porto da Raiva, interligando-se depois com as rotas terrestres da Beira Alta e da Beira Baixa.
Era através dessas rotas, também utilizadas no transporte de pessoas, que os produtos do mar ou entrados a partir do Porto da Figueira da Foz, e os produtos agrícolas das zonas interiores da região, circulavam.
No século XIX o Porto da Raiva era o mais importante porto do rio Mondego a montante de Coimbra, mantendo- -se activo até às primeiras décadas do século XX.
Partindo dessa realidade, e de uma ideia que começou a ser desenvolvida por Nuno Martins com formandos num curso sobre “Ambiente, Património e Projecto do Território”, realizado no mês de Junho, foram desenvolvidos quatro grupos de trabalho pluridisciplinares envolvendo arquitectos paisagistas, investigadores da área da cultura, geógrafos, engenheiros civis e planeadores do território, entre outros.
Os primeiros resultados, que evidenciaram a grande riqueza patrimonial existente, foram conseguidos desse modo, e continuados com outros grupos de formandos, explicou o arquitecto, que para além da actividade profissional na área é formador e colaborador da Escola Superior de Artes do Porto.
No troço de rio onde se perspectiva a criação do Parque Patrimonial do Mondego existem testemunhos físicos, nomeadamente de edifícios e quintas, mas também uma cultura e história próprias consubstanciada nessa vivência comercial, em aspectos como o folclore, a gastronomia e em certas práticas do quotidiano.
Na perspectiva de Nuno Martins, “existem muitos valores” nessa zona, que carecem de uma articulação para constituírem uma mais-valia como produto cultural e turístico para os municípios e a região.
A ideia do parque já foi considerada de “importância estratégica” pelo Ministério da Cultura, através da sua delegação regional do Centro, que se comprometeu a apoiar a sua implementação em articulação com as autarquias e outras entidades oficiais.
Idêntico reconhecimento foi expresso pela Região de Turismo do Centro, acrescentou.
Neste momento - segundo o dinamizador - os trabalhos tem vindo a ser desenvolvidos através de um grupo de profissionais de diversas áreas a trabalhar como voluntários, mas a intenção é apresentar uma candidatura a fundos comunitários, através da recém- -constituída Associação de Municípios do Baixo Mondego ou de um consórcio de várias entidades a criar para o efeito.
Há fortes expectativas de uma iniciativa desta natureza, para o desenvolvimento sub-regional, poder ser contemplada com fundos comunitários, começando por uma candidatura para a elaboração do projecto.
E nessa fase de elaboração projecto, apontada para meados do próximo ano, poderiam surgir já roteiros temáticos, alguns a partir de acções que as autarquias desenvolvem pontualmente.
Mas a ideia é ir mais longe. Que este parque, além de patrimonial e cultural, se assuma também como um centro artístico e científico, que seja indutor da produção e difusão de projectos de arte contemporânea, nomeadamente a partir de um modelo de criação através de residências artísticas.
DIÁRIO AS BEIRAS _ 6 DEZ