Do jornal Nova Esperança, a propósito da Confraria da Lampreia e do Fim de Semana da Lampreia:
Ressonân(s)ias
Confrades e confrarias
À semelhança do florescimento das Confrarias, ocorrido na Idade Média, assistimos hoje, no dealbar deste século XXI, a uma proliferação surpreendente de Confrarias Gastronómicas e Báquicas. Agora as suas finalidades não têm cariz profissional, religioso ou assistencial, como outrora. Hoje, a valorização dos nossos pratos tradicionais e dos nossos vinhos de qualidade são a principal razão de ser da sua existência.
Recuperando todo um conjunto de rituais, carregados de simbolismo, como os trajes, as fórmulas de juramento, a realização de capítulos, as confrarias assumem, hoje, um papel importante na dinamização das comunidades locais, atraindo pessoas de outros pontos do país e de além fronteiras, organizando encontros com componentes festivas, através de coloridos desfiles ao longo das ruas das nossas vilas e cidades, onde não faltam as varandas engalanadas com as tradicionais colchas e numeroso público a assistir, não poucas vezes, à passagem de figuras importantes da vida artística, política e até económica. Aliás, sem desprimor pelo meritório papel desta forma de associativismo, diríamos que não há confraria que se preze que não inclua figuras de renome na sua lista de confrades, nem, por outro lado, há político ou candidato a tal, que, a dado momento, não pense em se inscrever numa qualquer confraria, seja ela da Panela ao Lume ou dos Nabos e Companhia. Às finalidades de preservação do património gastronómico, as confrarias juntam, assim, fins lúdicos e de convívio.
Progressivamente, vão assumindo também um importante papel de sensibilização e de pedagogia, com o envolvimento das comunidades, investigando, ainda mais, o passado, para melhor compreender o presente e preparar o futuro deste mundo rural, futuro que poderá passar, entre outras potencialidades, pelo turismo gastronómico.
Penacova, com a sua Confraria da Lampreia, tem vindo a concretizar muitos destes objectivos, divulgando um prato, que não sendo exclusivo do nosso concelho, é confeccionado dum modo sempre especial, fruto de longos e longos anos de contacto com o Mondego e com os recursos alimentares que este, durante séculos vem oferecendo às gentes que com ele convivem.
De 23 a 25 de Fevereiro teremos, de novo, o Fim de Semana da Lampreia, assumido como importante estratégia de desenvolvimento da gastronomia e da restauração de Penacova.
Confrarias Gastronómicas e Báquicas: uma curiosa forma de associativismo que acima de tudo, entende que a qualidade e a riqueza dos nossos vinhos e das nossas receitas tradicionais merecem ser preservadas e divulgadas.
David Almeida